Pelas brechas furadas da minha cortina,
a luz entrou...
As partículas de poeira dançavam
saltitantes no ar
As paredes piscavam
como estrelas cadentes
Meu quarto estava em festa
Filetes marcavam minha pele
Me vestiam por inteira
Um banho solar
acordava meu corpo
lavava minha alma
Me levantei
Abri a cortina
Escancarei portas e janelas
Já era hora de se despir
tirar as roupas guardadas do armário
Posso escutar o barulho da água caindo no balde
Torcendo minhas lágrimas daquele sentimento guardado
limpando aquelas histórias empoeiradas
Posso escutar aquele rasgo
Arrancando aquelas folhas amareladas
repletas de linhas que nunca foram preenchidas
repletas de palavras mofadas cravadas que nunca saíram do papel
Agora posso sentir aquele cheiro de livro novo
Deitar no chão brilhoso
de peito aberto
desabrochada
regada
sentindo o ar puro me balançar