sábado, 17 de novembro de 2007

A metamorfose do escuro

Ela realmente estava cansada de enxergar, seus olhos imóveis e atentos tremiam, ela não agüentava mais. Então fechou seus olhos e em um único piscar, todas as imagens sumiram, todas as cores desapareceram e assim surgiu a escuridão que para ela, era o seu maior refúgio.
Em meio ao escuro seus olhos se acalmam e ela escutava vários cochichos que antes nunca havia escutado. Eram tantos cochichados ao mesmo tempo, que pareciam gritos aos seus ouvidos e isso a atormentava.
Totalmente incerta do que realmente estava acontecendo, suas interpretações eram totalmente diferentes.
Então em meio a um negrume de incertezas, se inicia a metamorfose do escuro.
que se transformava a partir de sua imaginação. Do preto surgiram cores e da mistura de cores, surgiram outras cores... E das cores surgem as formas e das formas surgem os movimentos...
Estava tudo ali, e ela assistia a tudo como queria que fosse, como a sua imaginação havia transformado, ela agora da cor e forma aos cochichos.
E sem nem perceber, ali estava... Vestida e enrolada num paradoxo que a enlouquece.
Explosões de tintas e formas! Ela se perde nas cores e nas formas surreais, entre a sua imaginação e a realidade, na sua mistura de cores e nos cochichados lá fora.
Não sabe mais o que é real, não sabe mais quais são as cores verdadeiras, nem quais são as formas verdadeiras.
Ela realmente não gostava da realidade, apenas fechou seus olhos a procura de um refúgio e do escuro deu espaço a sua imaginação, a sua ilusão.
Mas agora, ela não consegue mais abrir os olhos, não sabe se estão abertos ou fechados.

EN loU uqUe
C e

As cores e formas surreais se misturam com as reais, o surreal trepa com o real e ela acaba sozinha...
Não tem mais nem o real, nem o surreal...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O tempo me pintou


Pintou tempo e o tempo me pintou

Somos arte
somos tela
e o tempo o pincel

Somos a arte do tempo
esculturas vivas

Em nossos rostos pintados:
A essência da geometria,
da mistura de cores,
dos riscos,
das cicatrizes,
dos borrões,
das jorradas de tintas...

O enigma, o abstrato.

Um ponto de vista qualquer
diante de milhões de olhos.
Olhos que julgam
que moldam
pelos padrões ideais
sem nenhum ideal

Mas no fundo as presenças são todas belas
algumas excêntricas demais
ou abstratas demais
mas sempre belas.
A arte sempre tem alguma intenção
algum valor
algum passado
algum futuro

e somos todos arte
a arte que faz arte

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rio

Eu mato no mato
Eu rio no rio
E morro no morro

No morro do Rio eu mato
No morro do rio eu morro
No Rio não tem mais mato
No Rio não tem mais rio

Esse rio ás vezes acaba chorando
O Rio alegre de antes
Acaba virando um rio de lágrimas
Um rio de lixo
Por trás do riso do Rio tem o mato e o morro
O rio do Rio só reflete o mato e o morro

Eu moro no morro
Eu moro no Rio
E no Carnaval eu mato e rio

Mas no fundo todos riem
Riem do mato e do morro
Todos acham belo o mato e o morro do Rio

Corte o mal do mato
Deixe crescer
Somente

A mente
Somente
A semente
Que brota o mato vivo que respira e sente

Limpe os rios sujos do Rio
E cuidem do morro
Não deixem que o morro morra
Não deixe que no morro morram

Agora corre
Corre que o rio ainda corre
E por mais sujo que esteja
Ainda reflete alguma beleza

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Passageiros

Passa
passa
passa
passa paisagem
passa rápida como um vulto
leva embora meu passado
e atira meu futuro

Passa 
passageiro
passa 
ligeiro como bandido
furtando meu olhar perdido
levando-o para consigo
junto de sua pressa e objetivo

Porém também esquecestes teu olhar
aquele de segundos atrás
que agora levo comigo
para todo o sempre e 

infinito

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

"Sonhando acordada...


Lembro de meus sonhos turvos se misturando com a realidade e se construindo rapidamente sem nenhuma noção, ou qualquer senso. Mas se desmanchavam rapidamente quando o despertador tocava arregalando meus olhos e me jogando no mundo mais uma vez. Eu não aguentava mais... Acabava de acordar mas me sentia tão cansada. Olheiras escondiam meus olhos, meu corpo suava realidade e ouvia ecos de meu vazio. O despertador continuava berrando realidade, me enlouquecendo dançando frenéticos horários e compromissos. Não aguentava mais aquele vazio, faltava algo.
Não sabia sonhar acordada, a realidade dopava meus sonhos de vida. Eles precisavam acordar a qualquer custo, mas nunca acordavam. Sabia que não estavam mortos, pois os sonhos nunca morrem, apenas tiram sonecas e eu queria ter insônia, passar madrugadas sonhando acordada, sonhando infinito, vivo.
Isso nunca havia acontecido comigo antes, meus dias era sempre iguais, sempre que acordava me aprontava, e cumpria meus compromissos devidamente. Era tudo tão mecânico e correto, que pensava estar bem. Mas o que estaria faltando para essa minha vidinha medíocre? - Tudo que seja mais que o necessário, tudo que não duvides do impossível, esperanças e sonhos. Preciso realmente despertar de verdade, abrir os olhos para sonhar mundos infinitos, precisava disso.
Precisava me levantar, mas ainda continuava embargada debaixo de cobertas e o despertador continuava tocando agudo e irritante. até que aquele som irritante foi se modificando, transformando em uma linda canção, era uma música diferente com muitos instrumentos que se combinavam perfeitamente, haviam muitos vocais escalados, um coral de crianças cantavam depois de adultos e idosos. Todos tinham vozes de vida, de sonho. Via cores e luzes na música e eu sorria para elas. Não percebi, mas quando me vi já estava por completo levantada, dançando e pulando vida e sonho. Logo olhei na janela respirei fundo e enxerguei um infinito jardim colorido e vivo repleto de flores-sonhos multicolores que brotavam de uma única semente a semente de minhas convicções, as flores soltavam um aroma doce-salgado que ao cheirá-los sentia uma vontade imensa de viver e sonhar. Agora planto e rego-o todos os dias sonhos-vida naquele meu, seu e de todos jardim exótico que me fascina a cada dia em que vivo nele....
Eu realmente acordei para um novo sonho e dormi para o agora velho tédio. Sonâmbula de olhos abertos, sonho acordada.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A paixão como célula

Assististindo a aula de biologia hoje, no frio do ar condicionado, apreciava as células mostradas nas tranparências. E entre todas as duras e determinadas palavras da minha professora, viajei naquelas células.

"...No processo de divisão das células em mitose acontecem os processos de metáfase, anáfase, telófase e citocinese.... Nesses processos das células, os cromossos todos se condensam depois se mantém ligados ao centro da célula por uma fibra polar depois essas fibras se toram e os centromeros se dividem, uma parte vai pra um lado e outra pro outro, se a intencidade for a mesma dos dois lados. ... Assim as células começam a se separar, depois seus cromossomos começam a descondensar...."

Viajando no meio de tantas frases e nomes esquisitos associei os processos com a paixão. Pois é exatamente isso que acontece com aquela paixão que sintetiza tantos sentimentos juntos, tantas loucuras que modifica completamente nossas emoções. Essa paixão a dois que se torna um só caldeirão de sentimentos e desejos condensados, que remexe e que mistura. Como a célula condensando seus cromossomos. É um sentimento que sai de dentro de nós mesmos e nos modifica completamente. Mas depois, se separa, vai embora, se perde nas milhares de células... Elas continuam com as mesmas características mas nunca poderão voltar a ser só uma.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Quando falta a luz...


Certo dia falto luz aqui em casa e andei refletindo sobre a situação...

Quando falta a luz, é incrível como a noite fica tão estranha e divertida. Toda pressa da tecnologia se apaga em um segundo, toda rotina se desfaz e as pessoas ficam tão desorientadas.

"o que eu vou fazer agora?
o que será do meu trabalho?
ai eu to com medo!
a comida vai estragar!
não to vendo nada!"

E com isso as pessoas se juntam mais, se reúnem com os vizinhos para pedir velas emprestadas, se aproximam das pessoas para não ficarem sozinhos no escuro, conversam, jogam baralho a luz de velas, contam fofocas, conhecem pessoas. É um raro momento em que a pressa se cansa, a luz se apaga, a bateria se esgota... um momento de basta! um momento de refletir...

Um momento em que toda construção, toda tecnologia, todo concreto, deixa de ter importância, um rápido momento em que a única luz será a lua...

O artificial esconde o natural, ás vezes estamos debaixo de tantos artifícios concretos, tantos postes, fios elétricos, telhados, lâmpadas, faróis... E acabamos esquecendo do céu, da lua, das estrelas... Esquecemos que além desse mundo terreno temos um mundo desconhecido e infinito acima de nós, acima de nossas construções.

Mas quando falta a luz é diferente, é raro. As pessoas deixaram de ver o artificial, para ver o natural por apenas minutos. E se pensarmos mesmo o artificial de nada vale pra gente, o artificial só nos distraí, só gasta energia... O natural nos dá energia e nos trás um certo mistério e uma certa esperança de um lugar onde não tem concretos nem tijolos, nem postes, nem gravidade...

E é no meio dessa imensa escuridão e das pessoas desorientadas que eu acabo enchergando a luz.. A luz que me faz refletir, refletir sobre como as vezes somos tão bobos e distraidos com o artificial, sobre quanto tempo nós não admirávamos as estrelas e a lua. É... nem sempre precisamos de lâmpadas para podermos nos olhar no espelho e sim apenas de bons olhos.

Mas esse periodo é rápido...
Quando a luz volta tudo se separa novamente, toda pressa volta aceleradamente as pessoas se distanciam, não tem mais tempo para fofocas, nem jogos, o céu é esquecido novamente, as pessoas voltam a se distrair pelo artificial....

A lâmpada se acende e tudo se acelera novamente.

domingo, 16 de setembro de 2007


Rabisco meus sentimentos
passo corretivo
rasgo a folha
amasso
risco

os sentimentos ficam todos ali
amassados
rabiscados
e jogados na lata de lixo

o papel se decompõe
mas os sentimentos não
os sentimentos continuam fluindo
mesmo que eu queime as folhas
eles continuam no ar

sábado, 15 de setembro de 2007

Preciso voar...


O ar se reprimi
e meu fôlego se comprimi
Sufocada pela gravidade
me desequilíbro na estreita
estrada sem fim
em que caminho só
não aguento mais
penso em me jogar da estrada
queria voar como os pássaros
tocar as nuvens
me libertar
ser guiada apenas pelo vento
mas não posso
a gravidade ainda me chama
por mais sufocada que esteja
não estou pronta pra voar
ainda tenho que caminhar

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Seus mistérios

Teu corpo é labirinto imenso
repleto de mistérios,
perigos,
entradas sem saídas
e muitas alternativas.

E nele eu arrisco minha própria vida...

Mergulho no sangue do labirinto de suas veias,
corro sem destino na misteriosa floresta de seus olhos
e deslizo nas dunas de sua pele.

Minha vontade de te descobrir e te conhecer
grita mais alto que o risco.

E assim eu me envolvo,
me perco em teus mistérios.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Nossas p a rt e s

Eu sou feita de partes, retalhos, ingredientes e sobras de vocês e no final tudo isso resulta em mim.
Vocês me construíram, me costuraram, me emendaram, me bordaram, me cozinharam. Na verdade eu não sou eu, eu sou vocês. Nossas personalidades se diferenciam apenas pelos ingredientes a que misturam, pelas linhas a que costuram e pelos mais variados ideais.

Nós nos construímos, dependemos uns dos outros, estamos constantemente sendo reformulados por alguém, sempre tem um espertinho ou uma espertinha que adiciona ingredientes a nossa receita ou dá uns pontos no nosso bordado e nada podemos fazer, pois dependemos deles para sermos nós mesmos. Nem mesmo um anti-social é anti-social se não existisse sociedade.

Costumo associar esse nosso vínculo com as pessoas como um bordado ou uma receita. Cada dia de nossa vida estamos aumentado esse bordado com linhas das mais variadas cores, bordadas pelas mais variadas pessoas. Ás vezes o tecido rasga, mas sempre pode ser costurado novamente. E a nossa receita sempre se renova com muitas colheres de sopa e copos de 500ml. As pessoas sempre se intrometem, eu nunca tenho o mesmo gosto, nem o mesmo cheiro.

A vida é um constante trocar de doações, pois as pessoas se doam para nós, doam suas idéias, doam seus sentimentos, doam seus dias, seu tempo, seu olhar... Como se fossem nossos ingredientes, nossas linhas... Mas nem sempre as doações da vida são boas, depende de quem é o doador e qual é a intenção. E nada é emprestado, pois mesmo que você pegue de volta aquilo sempre vai estar na lembrança, ninguém nunca vai conseguir roubar suas lembranças. E as lembranças fazem parte de nós.

Nesse mundo, não temos um só cozinheiro ou uma só costureira. Todos somos autores desse belo e delicioso conjunto de ingredientes, retalhos e linhas que formam essa coisa bela que a vida é.
É... Realmente eu fico feliz de ser, mais uma parte no meio de milhões de partes. Cada parte, mas fascinante que a outra. Não fique triste por ser só mais uma parte, pois a parte por menor que seja, faz parte de um todo e sem ela o todo deixa de ser todo.

P.s: venho lembrar aqui que esse texto não foi feito somente por mim, mas por todos vocês, pois sem as partes de vocês eu nunca seria eu.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

É essencial...


Um pouco de incenso
um pouco de música

É assim que eu me recomponho...
Respirando um novo mundo,
Um mundo positivo.

Refrescando as tensões de um dia cansativo,
tornando-se pura novamente,
limpando negativos pensamentos,
aliviando feridas,
restaurando o equilíbrio perdido...

E a música...
a música é o sentimento vivo...
Cada susurro,
cada nota...
É como se entrassem dentro de mim
libertando meus sonhos,
minhas esperanças,
minha vontade de viver...
Me faz gritar,
pular...
me eleva...
E assim eu me recomponho...


O mundo me espera...
Pessoas, sentimentos...
Esperam algo de mim
e eu me arrisco!

Respirando uma nova vida...
Purificada
e de volta ao mesmo ponto de equilíbrio.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ponteiro incansável

O ponteiro roda tão rápido que chego a confundir
as horas com os segundos,
os meses com os dias...
Sinto as nuvens se movimentando cada vez mais rápido,
e quando eu me dou conta já é noite.

Eu me perco no tempo, ele foge de mim
e quando olho para trás não vejo mais minhas pegadas...
Não posso mais voltar atrás
Só vejo o infinito a minha frente.

Não sei que caminho seguir, não sei...
Sinto o grito do tempo aos meus ouvidos
preciso correr antes que não haja mais tempo,
antes que o tempo esgote,
pois o tempo não tem dó nem paciência

o tempo se alimenta de meus dias

Preciso seguir mesmo ferida
preciso correr,
preciso escolher,
preciso me arriscar...

Pois a vida é feita de intuições e de escolhas
muitas vezes escolhas difíceis mas sempre temos que escolher
pois não existem indicações só existem alternativas.

Tenho que me arriscar
e por isso eu me jogo....

Por isso eu me jogo no abismo da vida
nunca saberei até quando vai durar 
nem quando o fim chegará mais sei que arrisquei.