segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Cicatrizando os nós


Achei que tava tudo bem, mas aquela ferida aberta estava doendo muito. Tentei ignorar, tentei deixar ali respirando, mas tive que estancar. E mesmo não gostando, a pressão e as amarras foram necessárias, tive que atar os nós para me cicatrizar. Mas não queria me sentir assim, um remendo triste anestesiado, não queria ter que sentir essa linha me costurando por dentro. Ja não dói mais por fora, mas o corte da memória ainda machuca. Mas vai passar, o tempo vai descosturando e logo mais eu vou conseguir admirar a minha cicatriz. 


sábado, 10 de abril de 2021

Desaguar

 Que dia é hoje? Que horas são? 

Aqueles raios invadiam o lento abrir das minhas pálpebras. Era como ver a luz a primeira vez. Aquele clarão dançava com os vultos da minha consciência. Era como um temporal solar, uma fogueira atemporal que ardia meus olhos. Os flashes martelavam minha cabeça como aquele disco arranhado e sem nome.

Eu não sabia o que estava por vir. Você consegue distinguir entre o nascer e o pôr do sol? Como saber se  estou indo ou voltando? É difícil quando a gente se perde na história. Eu virei uma frase fora de contexto. Perdi meus pontos de referência. Apenas acordei naquele deserto continente. Seguia o barulho das ondas. Achei que estava chegando perto do mar, mas era só o eco dos meus passos se arrastando na areia. Como supor o futuro se não me lembro do passado? Como entender o presente se não conheço o passado? Eu me dei conta que estava correndo  em círculos naquela intersecção da minha existência. Mas eu parei e prontamente percebi que só me restava sentar e esperar a noite ou o dia se revelar. Porém, quanto mais eu esperava, mais a luz se mantinha estagnada na linha do horizonte como uma página emperrada. Eu não conseguia prosseguir aquela frase. O sol se engasgava com a leitura das palavras. Eu estava atormentada com os traumas escondidos do passado e com o medo do futuro. No fundo, eu buscava enxergar o que tinha medo de ver. 

O sol se apresentava pra mim como o ponteiro daquele relógio quebrado. Todas as tentativas de conserto foram frustradas, ele continuava estático como o sol.  Gastei dias tentando entender que dia e que horas eram. Demorou muito pra eu perceber que eu não precisava saber a data e a hora exata. Demorou muito pra eu aprender que não preciso esperar o dia ou a noite se revelarem. Demorou muito pra eu perceber que a paciência é o ponto de referência e que o presente é o contexto. Demorou muito pra eu aprender que o sol não nasce ou se põe pra quem espera, ele só se revela para quem sabe apreciar a transição sem impor expectativas. Ele só passeia livremente. É como a inspiração que acompanha a expiração. Não existe antes ou depois, primeiro ou segundo, a vida flui como os passos de uma dança. Enquanto um pé está indo o outro está voltando, mas o caminho é único, basta abandonar aqueles discos arranhados, escutar novas músicas e acompanhar o ritmo. 

Você acha que um rio se pergunta se está indo ou voltando? Um rio se pergunta se está no caminho certo? Não há represas capazes de contê-lo. Ele não duvida. Sua certeza corrói cada parte daquelas barreiras de concreto. Essa é a força da vida e você só entende para onde estava indo quando chega. O controle é uma ilusão e não importa o quão tortuoso seja aquele leito, uma hora ou outra você vai descobrir onde desaguou. 

Você encontrará sua foz e escutará os barulhos verdadeiros das ondas do mar. Seus passos vão virar maré e continuarão arrastando as areias, mas agora formando ondas verdadeiras, longe dos ecos estagnados da ilusão. 

Demorou, mas eu pude fluir e sentir o sal do suor e das lágrimas. Eu  troquei a pressa pela apreciação e abandonei aquele relógio. Me atrasei e cheguei a tempo de descobrir o nascer do sol e sentir o dia me atravessar. Não sei que dia é hoje nem que horas são, mas sei que o dia está começando.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Luz negra

 Arranquei nossas palavras do meu caderno, mas o tempo te gravou em mim como aquelas tatuagens que só podem ser vistas sobre a luz negra. Achei que tinha me livrado, mas as lembranças ainda saltam em mim como aquelas palavras em relevo que ficaram nas nas páginas em branco seguintes. Deslizando a mão sobre esse vazio, eu sinto a intensidade da nossa história em expansão, leio a poesia do nosso encontro me atravessar.  Eu percebi que apesar de ninguém conseguir ver, eu não consigo te apagar de mim.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Vapor

Seu olhar embaçou meus espelhos internos. Sua voz transpirava, a pele abafava minhas certezas.  A respiração apagava qualquer caminho de fuga. Sentia seu calor dilatar minhas vias e seguia perdida naquela nuvem de vapor. Estava envolta naquela poesia, mas precisava fluir. Eu escancarei. 
Assisti a poesia dos espelhos desembaçar, o cabelo embaraçar, o vento me abraçar. 
Já era tempo de voar, chover longe dali.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Tua
voz
é
música
censurada
me
toca
mas
nao
posso
cantar
me
anima
mas
nao
posso
dançar

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Não 
foge
de
si
ressigni
fique


Anteparo


Me deparei com aquela sombra emoldurada na parede, parecia pintura. Eu fiquei ali observando aquela obra abstrata animada,  um quadro fugaz de circunstâncias sobrepostas, obstáculos temporários. Tentava decifrar o que estava projetado naquela sombra. Eu estava ali?  Qual foi o caminho percorrido pela luz? Não sei. Anteparo e sigo imóvel, meu corpo e meu pensamento se perdem em justaposição. Percebo como aquela sombra é tão real e concreta quanto aquela parede, mas a parede segue fixa e a sombra segue transmutando leve sem passos ensaiados. Foi ali que me enxerguei. Hoje não quero ser espelho, não quero ser fotografia, não quero ser pintura, quero ser como aquela sombra na parede... Quero a sombra das dúvidas, me projetar sem planos,  sem cálculo, sem esboços, sem rascunhos, me agarrar no concreto, no agora, sem autoria, sem curadoria.

sábado, 6 de junho de 2020

A mim me interessa muito mais a areia aos tijolos, a corrosão à integridade. A chuva é meu cimento, meu abrigo é ventania. Eu construo muralhas, fugazes fortalezas, engenhosidades do efêmero. Meu império é o da maresia. 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Paixão
confiscada
Inspiração
censurada
Um
sufoco!
Fazer
o
que?
Alegoria
de
poeta
dura
pouco

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Não quero mais aquele café frio
aqueles farelos
aquelas frutas maduras demais
quero chegar cedo
no cheiro da manhã
tirar as frutas do pé

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Poeira dançante


Pelas brechas furadas da minha cortina,
a luz entrou...
As partículas de poeira dançavam
saltitantes no ar

As paredes piscavam
como estrelas cadentes
Meu quarto estava em festa
Filetes marcavam minha pele
Me vestiam por inteira
Um banho solar
acordava meu corpo
lavava minha alma

Me levantei
Abri a cortina
Escancarei portas e janelas

Já era hora de se despir
tirar as roupas guardadas do armário

Posso escutar o barulho da água caindo no balde
Torcendo minhas lágrimas  daquele sentimento guardado
limpando aquelas histórias empoeiradas

Posso escutar aquele rasgo
Arrancando aquelas folhas amareladas
repletas de linhas que nunca foram preenchidas
repletas de palavras mofadas cravadas que nunca saíram do papel

Agora posso sentir aquele cheiro de livro novo
Deitar no chão brilhoso
de peito aberto
desabrochada
regada
sentindo o ar puro me balançar

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Oásis

Contemplo
aquela paisagem que construí
sobre vestígios seus
escombros que escondi

Na moldura do olhar
destroços da memória
cicatrizes do tempo
rugosidades do espaço

Eu tenho meus pés no chão
mas a poeira dos meus passos logo se juntam àquelas nuvens

Eu caminho sobre as ruínas da realidade
mas viajo pelos sonhos do horizonte

Naquela estrada oásis
vejo você se aproximando

É só vertigem

Fecho meus olhos 
e a paisagem se apresenta igual

Continuo a caminhar
admirando aquela imagem
panorama reverso
refração da memória
naquele trajeto miragem

domingo, 5 de abril de 2020

Meus cabelos ao vento

Às vezes me sinto pesada como rocha
Paralisada
Intacta
Mas meus cabelos ao vento
me levam

Enraizando no ar
meu corpo se desfaz em duna
mergulho em mim
naufragadas certezas

Meus cabelos ao vento
se agitam como árvore frondosa
dissipam sementes
pulam como o respingo das ondas
espumas salgadas

Meus cabelos ao vento
são como um véu de chuva
correm cachoeiras
um brilho nascente
dançam como um barco a vela
derretida em fumaça

Meus cabelos ao vento
mostram que continuo forte
sem o peso das rochas
mas resistente como um grão de areia
e é isso que sou 

segunda-feira, 30 de março de 2020

Por que lutar?

Por que lutar?
A vida é bandida
É causa vencida
Criança atingida por bala perdida

Por que lutar?
O sistema contagia
Prolifera na cidade
Miséria, desigualdade
Vírus, pandemia
Racismo, machismo, homofobia

Por que, então, surtar?
Porque o sistema corrói nossa mente

Por que, então, não desfrutar?
Porque a fome ainda consome a nossa gente

Por que, então, não se exaltar?
Prefiro me calar
Tenho sede de mudança
Mas engulo seco pra ninguém me matar


Então, por que lutar se não tenho mais esperança?
É tanta chacina
Tanto sangue derramado
Tantos corpos vendidos, liquidados e descartados


Por que lutar?
Lutar para nos salvar,
Porque não podemos aceitar
Precisamos nos rebelar
Reconstruir, revolucionar!

Não estamos sós
Você está entre nós
Tá no nosso gene
A força perene
Se uma cair, mil irão se levantar
Somos Amélias, Joanas, Dandaras, Simones, Quitérias, Marias, Margaridas, Marielles e tantas outras que vieram te resgatar!

Então, por que lutar?
Porque nossa luta é vacina
Tá no nosso sangue
Se aglutina
E nossas células não desistem
É luta coletiva
Não nos resta alternativa

Somos anticorpos contra o sistema
Vamos quebrar nossas algemas
Cicatrizar os edemas
Pulsar nossa corrente
Ficar na linha de frente

Vamos ocupar todas as ruas e avenidas
Reunidas, munidas
Nunca mais reprimidas

Não vamos temer a brutalidade
Pois vamos vencer com sororidade 
Então, por isso lutar!
Porque lutar nos une
E juntas nos tornamos imunes!





sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Clave de Sol

Arrebentação
Maré que incendeia
Desfaz meu chão
Lava minha alma
Encanto de lua cheia

Um dia de sorte
Arcano da morte
Transformação

Um laço
Amasso
Reencontro divino
Clave de sol
Arranjo destino

Maresia que alastra
Me toma
Me agita

Aquele vai e vem
Respiração
Inspiração
Música e poesia
Acalanto e ventania

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Liberta

Tenho pulsos firmes
Não aceito amarras
Tenho mãos abertas
Entregues
Descobertas

Sou Filha do ar
Ave de rapina
Minha presa é liberdade
Abolição, minha sina

Não fujo na surdina
Sou trinco solto
Reação em cadeia
Tempestade de areia
Flama que norteia

Sou constante lampejar
Sigo labaredas
Hasteio o céu
bandeira solar
Não ando em veredas
Desaguo no mar

Meu amar é aberto
Maré livre
Respiro manso

Perene trovar
arbítrio abraço do olhar
Espontaneo permear


Transcorro selvas
Não domo feras
Sou mata fechada
Um sopro a vera

Meu corpo é fresta
Minha alma é fenda escancarada
É como decidi ser e agir: Liberta

sábado, 27 de abril de 2019

Pintura

Ela desliza as mãos sobre os cabelos
Em um toque macio e forte
amarra o cabelo com um pincel
Os fios ondulados deslizavam...

Foi como desenhar uma dança
Foi como navegar no oceano
Foi como rabiscar o sol no horizonte

A luz irradiava naquele ruivo
como fogo crepitando
E eu fiquei presa naquela pintura
Enrolada naquela poesia...

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Vendaval

Olhos fechados
o batuque vibrava
Olhos abertos
glitter, purpurina
Led, neon...
O bloco irradiava
em todos os cantos
de amor,
de revolta,
de esperança...

E todo dia isso
chovia suor, saliva...
Goles, doses, lágrimas,
amores líquidos...
A alma era lavada,
Meu coração era levado...

Foi paixão a primeira vista
Um casamento aberto com a multidão

Eu te perdia
Me encontrava
Te encontrava
Nos perdíamos
Nos encontrávamos

Foi tão lindo!
Uma Ilusão real,
Um vendaval que passou,
Um carnaval que ficou...

(A)(re)voada

- Onde você vai?
- ...
Eu voo andando sem rumo
Flutu
Ando
Entre nuvens e calçadas
Até por acaso o destino me encontrar...

Cacos de meu feed

Não sei o que sou, eu sou estranha, assimétrica, feia, não consigo seguir os padrões, estou com t.o.c de mim mesma. Às vezes acho que sou aqueles jogos de ilusão de ótica que você enxerga uma imagem e depois de tanto olhar enxerga outra coisa.Eu via uma flor, mas agora vejo um monstro. Estou com medo de mim. É o século XXI aterrorizando nossas mentes. Por favor me leve para o começo do século passado por favor. Meu deus...estou ficando louca.
.
.
.
Mas acabou, eu não aguentava mais! acabou!
Eu joguei meu celular no meu espelho com toda força que tinha e tudo virou estilhaço. O alívio foi tão grande!
E eu percebi ao juntar os cacos que sou um mosaico louco e bagunçado. Percebi que posso criar meu próprio padrão. Foi aí que aprendi a me apreciar. Não preciso mais de filtros.

domingo, 14 de abril de 2019

Lua de Sangue



Viver banhada de luz é sempre muito bom, mas às vezes precisamos nos recolher. Às vezes é o momento de entrarmos dentro de nossa casa, nosso quarto, fechar as cortinas e refletir. Quem é você? O que se tornou? Quais seus planos para o futuro? Como pode se tornar uma pessoa melhor?

Às vezes precisamos ser raízes e não apenas folhas e flores. Precisamos descobrir a profundidade do que somos, enraizar e buscar o que nos alimenta, o que nos faz feliz. 
E não, nós não estaremos nos escondendo, não estaremos fugindo de quem somos. 
O sol às vezes cega, às vezes queima... Precisamos de um pouco de sombra para enxergar nossa própria escuridão. 
Precisamos respeitar esse momento porque assim nós iremos brilhar de um jeito diferente. 
Nossa luz não se apagará, mas se transformará. 
Seremos como a cor roxa avermelhada da lua em um eclipse lunar. 
Seremos como a lua de sangue pulsando em nossas veias, nossas raízes... 
E ao amanhecer, nos sentiremos mais fortes para abrir nossas cortinas e sentir o sol nos tocar e nos fazer renascer, como uma flor que acaba de desabrochar.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Carne Viva

Tirei minhas roupas
E me despi de mim
A pele fina descamava
Membrana por membrana
Em nirvana
Meu corpo queimava

O simples toque do vento
Ardia minha alma

Não sentia mais o peso daquela carcaça

Nunca pensei que seria bom
Me sentir em
Carne
Viva...

domingo, 17 de março de 2019

Etéreo-postal

Apreciar
Sem pressa
Essa é minha prece

A paisagem como uma passagem
Para o futuro e para o passado

Tão doce
Como os sonhos da infância
Tão forte
Como a energia da terra...

E é essa sensação
de permanência e transformação
que agita minha multidão...!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Eternizar a beleza do efêmero

Eu e o meu vício em fotografar pássaros e borboletas. É a beleza da liberdade que esses seres vivem que me encanta, seja alçando voos e deslizando leves no céu, seja coletando o néctar das flores ou então pousados em árvores e telhados apreciando o horizonte.
Eu aprecio e me pergunto, de onde vieram? para onde vão? quanto tempo de vida possuem? quanto tempo de vida ainda lhe restam?
Seja no caos da cidade ou na calmaria do campo, continuo firme a fotografá-los. Quantas vezes interrompi aqueles momentos  robóticos do cotidiano para apreciar um pássaro que pousou no poste da rua ou uma borboleta que passou rapidamente por mim, corria doida atrás da câmera, mas quase nunca consigo captá-los a tempo, mas ás vezes também apenas aprecio imóvel, não quero sair para não perder a cena. Fico dividida entre fotografá-los apenas com olhos ou também com a máquina. 
E eu me pergunto, por quê ouso fotografá-los? será uma maneira de aprisioná-los imageticamente no tempo? Por que essa necessidade incessante de objetificar aquela imagem? pensando assim parece até cruel. Será?
Mas eu quero lembrar de todos os detalhes, eternizar a beleza do efêmero!
Mas tudo bem! Entendo que talvez essa seja uma forma saudável de apego, talvez seja uma bela maneira de criar e caçar pássaros, alojá-los e apreciá-los em fotografias e boas memórias. Como diz Letuce "acompanha o pássaro, mas não atrapalha o voo, não tente olhar com as mãos, estar perto requer outros dons...".

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Territorialidade poética

Tô tão coberta de racionalidade
Engessada da realidade
Está doendo...

Sinto falta das asas da poesia
da fantasia do teatro
hoje sou só Geografia

Estou aprisionada nas fronteiras da realidade
territorializada em minha própria escolha

É difícil...
me sinto refugiada dentro de mim mesma
quero me exilar,
quero pedir asilo político da verdade...

Mas eu sei que preciso seguir
vou aprender a lidar com tudo
vou atravessar esse oceano sem medo
para que a verdade seja entendida
para que vocês não sejam esquecidos

Vamos seguir todos juntos
e nosso território será livre como a poesia
o conhecimento nos libertará!

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Preto e branco

Mas que dó!
Poderia ser colorida.

Como poderia não colocar as cores do céu, do mar, da vegetação e daquele mix de cores em volta da sua pupila que se expandem e se misturam como um caleidoscópio... Como a água de um rio que corre em ondas após ser atingido por uma pedra?

Eu sei, é uma escolha difícil, mas eu optei pela poesia do preto e branco...
As cores estão ali, mas não estão.
Aquilo é real, mas não é.
É simples...
Como aquele rabisco seu que eu fiz...
Como aquele bilhete que deixei na sua mesa...
É simples...
como as coisas deveriam ser

vistas

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Agora

Mas
e
se...?

Se
não
si
é

se
vive
em
se...

se
vive
em
vão...

e
se
vão...

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Eclipse poético

Chovia lá fora...
as gotas de chuva batiam lentas na minha janela de vidro
eu podia ver as luzes da cidade se escorrendo...
E todos aqueles prédios, todos aqueles quartos...
todas aquelas lâmpadas
se acendendo
se apagando...
As pessoas chegando e partindo
acordando e dormindo
sonhando...
...
E está nublado e não dá pra ver a lua...
então fecho meus olhos, respiro essa brisa...

Mas para que direção estará a lua?
aquele satélite natural que está preso a esse planeta
e modifica toda nossa maré
nosso mar exterior, interior...

Minha lua em leão...
Seu sol em leão...
que doido!
coincidência?
Agora entendi...
Nunca ficaremos juntas,
mas não existimos uma sem outra
como sol e lua...
O que teremos no máximo é um eclipse...
Um eclipse solar que pode durar no máximo cerca de 7 minutos
ou um eclipse lunar de 30 minutos ou pouco mais de uma hora...
Bem breve, raro, lindo...
...
"vento solar e estrelas no mar... a terra azul da cor de seu vestido..."

Nossa!...fui longe....
mas agora abro meus olhos e volto ao meu quarto, ao meu som, à minha janela...
escuto o disco de Clube da Esquina junto com o barulho da chuva...
"Ah... Sol e chuva...Na sua estrada..."
como é bom estar aqui
embarcada nesse planeta
vagando pelo universo
girando...
em movimento de rotação, translação...
em misterioso ciclo...
boiando em finas camadas de terra
que se chocam
sob um volume infinito de magma
que se exalam
e surgem vulcões
erupções
montanhas
planaltos
planícies
depressões
dunas
escudos cristalinos
vales...
E os rios continuam seguindo seu caminho
continuam desaguando no mar
e os animais continuam a migrar...
A geografia é poesia...

E de repente...Silêncio!

Ah, o disco acabou!

Preciso colocar outro...

terça-feira, 18 de julho de 2017

Frete

Eu estava andando na rua em direção a parada de ônibus quando olho um  papel colado em um poste escrito "fazemos pequenas e grandes mudanças" e o número de telefone... E eu tinha acabado de sair da minha psicóloga, ainda com todos aqueles meus dilemas internos, aquelas limitações de minha personalidade que queria tanto que deixassem de existir...
aí em um instante eu pensei em ligar... "quanto custa o frete para grandes mudanças?", mas aí o ônibus chegou e eu corri para não perdê-lo... Não deu tempo de anotar o telefone e nunca mais achei esse papel.... e agora?

Biodegradável

Encontrei aquelas cartas de amor... de amores....
fazem o que 10, 12 anos?
O papel e a tinta ainda estavam intactos.
Até as palavras escritas à lápis ainda estavam intactas...
Era como se pudesse ver aquela caneta, aquela mão, rasgando suavemente o papel...
jorrando delicadamente amor e paixão em forma de tinta...
seria uma caneta bic? ah... também tinha aquelas porosas que eram super caras...
é como se eu vesse essa caneta, esse pulso firme, pulsando amor... era como se eu vesse esse rosto pensativo ao escrever... era como se eu vesse...
Quando olho para aquelas palavras marcadas naquele papel eu vejo...
Que bom que o papel ainda está intacto e com as palavras cravadas com tinta, mas eu fiquei pensando...quantos anos vai durar esse papel até se deteriorar?
Mesmo que eu continue deixando-as ali dentro daquela maleta azul em um móvel junto com livros e vinis antigos, que escutava na vitrola do meu avô, um dia elas irão se deteriorar, né?
Eu não queria... até pensei em a partir de agora só escrever cartas de amor em latinhas de alumínio ou garrafas de vidro... Aprendi na escola que o vidro demora 1 milhão de anos para se decompor! que loucura! Nosso amor (efêmero?) atravessaria milênios! será?
Ah... loucura minha...
Aprendi na escola que devemos reciclar os materiais, que devemos usar o máximo de material biodegradável... Mas que triste pensar em cartas de amor biodegradáveis não? Ah, para que ficar pensando nisso? aposto que muitas cartas que enviei aos meus amores já nem existem mais... foram jogadas no lixo junto com vários papéis velhos e com certeza destinadas a um lixão onde passaram por chuva, vento, chorume e se deterioraram rapidamente... Ou será que algum catador de lixo ou um louco poeta ou ator pegou? será que virou poesia? espetáculo? ou curiosidade de alguns... será que inspirou alguém?
Ah... será que sou tão apegada as palavras antigas de amor cravadas em papel? acho que não... Sou apegada à lembrança que elas me trazem e à capacidade de me levar de volta à aquele tempo, à aquele sentimento... Mas eu sei que mesmo elas se degradando eu ainda irei lembrar daqueles sentimentos...
De qualquer forma ainda escrevo cartas em papéis, plásticos, vidros...
Mas ultimamente ando escrevendo na areia da praia, no vidro embaçado do box do chuveiro, nos corpos nus arrepiados de amor, no tronco das árvores e nos muros da cidade...
Deixo uma palavra em cada lugar, assim elas ficam livres... e biodegradáveis...se decompondo na natureza, sem o perigo de serem resíduos acumulados na natureza e apegados à sua forma...
Hoje minhas cartas são biodegradáveis, renováveis...

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Desancorar

O fluxo sanguíneo acelerou
pulsando incessante
como uma tempestade em alto mar

E é tão bom...
subitamente me sinto viva

Afinal,
"todo bom marinheiro sabe a beleza da tempestade e do porto seguro"
tá vendo?
acabei de criar esse ditado 
ou ele já existe?

mas é isso
é hora de desancorar!

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Di vag ando

Vida vaga?
e aquele dia?
aquele ontem?
aquele amanhã?
havia me esquecido
mas aquele dia nunca mais esqueci
passou?
de vagar...
hoje sou outra
aquela criança
era eu?
mas e a verdade?

Vadia
sigo di vag ando
cega
sem direção...



quinta-feira, 14 de julho de 2016

Sem pedir licença...

Você lembra?
nós não convivemos mais...
ah, você não lembra, eu sei.
Algumas pessoas te marcam...
mas isso não quer dizer que você também marcou ela não é?
Como conviver com uma lembrança que não vive mais?
ou será que já viveu?
já faz tanto tempo que nem sei mais...
moramos na mesma cidade?
Relaxa, são só fantasmas de lembranças que entram em seus sonhos.
Até logo?

terça-feira, 14 de junho de 2016

Tsuru













Era uma folha
agora é barco a navegar
flor
coração
carta de amor
contas para pagar
borboletas
rascunho
poesia
bilhete
mágoa amassada
transformação...

O papel é o mesmo
e eu sigo dobrando e desdobrando as folhas
dobrando e desdobrando a vida
até que no fim tudo vira tsuru
vida plena...

terça-feira, 15 de março de 2016

Bifurcações

O que é a certeza?
Existe?
A única certeza que eu tenho na vida é a minha morte.
Será isso muito pesado de afirmar? ou será que estou errada?
Estamos sempre buscando certezas na vida. Estamos sempre buscando respostas... E essas respostas tem que ser corretas, tem que ser pensadas, tem que ser apropriadas, tem que ser a escolha certa. Não é isso que nos cobram? não é isso que me cobro?
Dúvida... Como seria possível viver em uma vida só de dúvidas? Talvez não sairíamos do lugar. Estamos ali naquela bifurcação... E aí para onde seguir? Se tiver certeza de qual o atalho mais fácil e  que chegará a algum lugar bom com certeza escolheria ele, mas não sei. Vou pela intuição... Pelo coração... Existe isso? A escolha é o maior desafio dessa vida. Não podemos ter tudo, nunca, mas o que é tudo nessa vida? E o que é nunca?
Eu queria ser aquela pessoa de intuição forte, de certeza, aquela pessoa que não questiona a vida. escolhe sem saber que está escolhendo, aquela pessoa que não precisa escolher, aquela pessoa que não tem nada e o que tem é  única coisa que pode ter ou aceita isso ou não aceita nada. Ou queria ser aquela pessoa que só vê aquele caminho a seguir e nada mais te faz duvidar...Mas sou bifurcações! Nunca sou nem tudo, nem nada... Queria poder dirigir minha vida cega na certeza de que aquele é o único caminho a ser seguido.... Mas questiono, enxergo demais, sou do contra, aquariana louca... Isso me pertuba! Eu queria os dois caminhos, mas não posso, então escolho um, mas penso no outro, e fico louca entre o escolhido e o descartado, o passado e o presente, me sinto perdida em um caminho sem volta em um labirinto de bifurcações... Como pro-seguir?!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

quarta-feira, 24 de junho de 2015