sexta-feira, 12 de junho de 2020

Anteparo


Me deparei com aquela sombra emoldurada na parede, parecia pintura. Eu fiquei ali observando aquela obra abstrata animada,  um quadro fugaz de circunstâncias sobrepostas, obstáculos temporários. Tentava decifrar o que estava projetado naquela sombra. Eu estava ali?  Qual foi o caminho percorrido pela luz? Não sei. Anteparo e sigo imóvel, meu corpo e meu pensamento se perdem em justaposição. Percebo como aquela sombra é tão real e concreta quanto aquela parede, mas a parede segue fixa e a sombra segue transmutando leve sem passos ensaiados. Foi ali que me enxerguei. Hoje não quero ser espelho, não quero ser fotografia, não quero ser pintura, quero ser como aquela sombra na parede... Quero a sombra das dúvidas, me projetar sem planos,  sem cálculo, sem esboços, sem rascunhos, me agarrar no concreto, no agora, sem autoria, sem curadoria.

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